sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Vasco Rossi

A Itália tem uma tradição de cantores e autores bastante original. Vasco Rossi é um dos cantores\autores que admiro aqui. Ao mesmo tempo que ele faz composições roqueiras me sai com pérolas como "E adesso che tocca a me", um verdadeiro hino a quem cresceu com sonhos e os perdeu diante de uma realidade que sufoca e brutaliza. É exatamente essa a mensagem que a música passa. O que fazer com a realidade, como lidar com ela sem se machucar, sem se perder, sem mudar demais para agradar uns ou outros, como ficar íntegro àquilo que a gente acreditava. Esse é o maior desafio de quem passou dos 30 e ainda tem alguma sensibilidade. Estou escutando exaustivamente ao capovaloro do Vasco - uma música simples e tão poética, pois toca na nossa alma e nos convida a pensar como foi que mudamos ao passar dos anos.
Convido vocês a fazerem a mesma reflexão e deixar a emoção aflorar com o grande poeta Vasco.
http://br.youtube.com/watch?v=1A4OztxTTB4

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Inter campeão da Copa Sul-Americana

Que vontade de estar em Porto Alegre, para dividir com os irmãos colorados a alegria de ser campeão da Copa Sul-Americana, diante do aguerrido Estudiantes, time da Argentina. Pelo que eu li a final foi dramática, como deve ser todo confronto dessa envergadura. Mas mesmo que o time adversário tenha sido superior nos 90 minutos da partida, o Colorado conseguiu vencer na prorrogação pelos pés de Nilmar, após um bate-rebate na área. Estava escrito que os torcedores teriam mais essa felicidade, que me contagia mesmo estando a milhares de quilômetros de distância, aqui na Itália.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Bolsa-Família italiano

Hoje o governo italiano lançou o seu bolsa-família. Certos jornalistas, todos eles atuando nos canais pertencentes ao conglomerado de comunicação de Silvio Berlusconi, douraram a pílula. Emilio Fede, da Rete 4, é o maior defensor do patrão, e toma partido abertamente por ele, inclusive atacando seus inimigos da oposição. Em entrevista com um senador do partido do premier, Popolo della Libertà (PDL), o jornalista iniciou a pergunta com uma afirmação: "o dia de hoje foi marcado por avanços...". O principal fato, o tal bolsa-família italiano, concede 40 euros por mês a famílias com renda igual ou inferior a 6 mil euros-ano. Segundo o governo, serão beneficiadas 1,3 milhão de famílias, das quais 1 milhão formada basicamente por idosos, e o restante por casais jovens com crianças pequenas. Em primeiro lugar, será difícil encontrar quem ganhe 6 mil por ano. Outra coisa: qual a diferença que 40 euros fará na vida de quem é pobre? Para que o leitor tenha idéia, um quilo de carne aqui está em média 15 euros. Um aluguel de um apartamento de 50 m² custa por baixo de 500 a 700 euros, podendo superar esse valor se as cidades em questão são Roma e Milão.

A sangue frio

Hoje foram condenados à prisão perpétua Olindo Romano e Rosa Bazzi, acusados por terem cometido um crime horrendo no comune de Erba, no norte da Itália, em 2006. O caso envolve a morte de quatro mulheres e uma criança, que depois de terem sido esfaqueadas tiveram os corpos queimados. Os autores colocaram fogo no apartamento onde as vítimas estavam, principalmente para apagar vestígios da autoria do delito. O motivo foi torpe: desentendimento entre vizinhos. O que impressiona, além do fato em si, é a frieza dos agressores, que costumavam até rir para os parentes das vítimas no tribunal. Agora deverão rir menos, pois serão proibidos de se encontrar por três anos.

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Isola dei famosi

Na Itália existe um reality show em que os organizadores colocam, em grupos separados, "famosos" e simples mortais desconhecidos numa ilha do Caribe. O nome é Isola dei Famosi (Ilha dos Famosos). A lógica é deixar o pessoal à míngua, com uma ração diária mais mirrada que a de um monge franciscano. À medida que o público vai mandando os participantes para casa, chega um momento em que famosos e não-famosos passam a conviver num mesmo grupo. Ontem aconteceu a final, e os três personagens eram peculiares: um bobo da corte, um transexual e uma argentina de rara beleza e personalidade. O impensável aconteceu. Ganhou Vladimir Luxuria, transexual com uma passagem pelo parlamento italiano como deputado e pelo que pude conhecer uma pessoa inteligente e dona de um pensamento crítico. O fato me surpreendeu, porque a população italiana é bastante conservadora. Taí a eleição de Berlusconi que não me deixa mentir.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Morte na escola

Gerou comoção na Itália a morte de um adolescente de 17 anos, Vito Scafidi, na escola de Rivoli, em Torino. O teto da sala de aula onde se encontrava o estudante e os colegas caiu, deixando, além de uma vítima fatal, vários feridos. O acidente na escola não é bem um acidente, mas o desdobramento trágico de uma série de omissões e o resultado de uma burocracia pesada. Desde 2002 havia à disposição um fundo de 500 milhões de euros endereçado à manutenção de escolas e universidades. A atual, discutida e discutível, ministra da Educação, Maria Stella Gelmini, promete a liberação de recursos emergenciais para evitar novas tragédias como a de Torino. Ou seja, precisou que acontecesse uma tragédia para que a ministra assumisse a responsabilidade pela manutenção dos prédios das escolas. O que ressoa muito mais forte é o choro e o testemunho da mãe desesperada de Scafidi, cujo filho foi à escola e não retornou.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Primeira vez em Frankfurt

Hoje estou partindo para Frankfurt para receber um treinamento pela empresa para a qual eu trabalho. Será a minha primeira vez na cidade, e espero que valha muito a pena. Ficarei por quatro dias. Pelo que pude perceber da Alemanha, existe uma organização social maior do que na Itália, em todos os sentidos. O grande barato é ver a grande frota de bicicletas que eles têm por lá. Depois escreverei alguma coisa sobre a cidade.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Turismo ao acaso

Finalmente, depois de quase 10 meses, está nos sobrando algum para passear e conhecer um pouco da Itália. Nesta semana fomos a Florença, acompanhados de meu pai. A viagem foi curta, mas inesquecível. As paisagens da Toscana são absolutamente deslumbrantes. O outono foi caprichoso ao pintar as folhas das árvores de amarelo e laranja da estrada que pegamos. Saímos de Ancona rumo ao norte pela A14, e pegamos à esquerda a partir de Forli. A partir daí percorremos uma estrada secundária maravilhosa, pela sua beleza natural, mas absolutamente tortuosa. Não achamos o nome da serra, mas ela atinge mil metros no seu ponto mais alto. Ao chegarmos em Florença passamos a caminhar sem destino. A partir daí, cada rua que percorríamos nos reservava uma surpresa fantástica. Palácios, museus, igrejas da Idade Média e da Renascença. Uma grande pedida é a Igreja Santa Mara dei Fiori, que demorou 140 anos para ser construída entre os séculos 13 e 14.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Global fund 'could pay owners to keep rainforests safe'

A revolutionary multibillion-pound fund should be set up to pay the owners of the world's rainforests not to cut them down, a report to the prime minister will say today. The report by special adviser John Eliasch says the scheme would be a comparatively cheap way to reduce climate change emissions and would also inject vital funds into developing countries to help alleviate poverty.
The report says that a global carbon market could pay the tropical rainforests' owners, or people living in, them to save and maintain the trees, which store carbon dioxide - the main contributor to climate change. In addition, saving the rainforests would help to control global rainfall patterns. They are also home to more than half the world's species.
The World Bank has estimated the cost of reducing deforestation by one fifth at $2bn-$20bn (£1.15bn-£11.5bn) a year, leading campaigners to calculate that halting the problem would cost up to $100bn a year.
But the Eliasch review claims countries without forests could also benefit from a global forest emission trading system, which would be relatively cheap compared with saving emissions at home.
"Integrating forests within a global cap and trade system would create opportunities to tackle a large part of current CO2 emissions while at the same time delivering substantial finance to forest conservation and sustainable forest management," says the report. "Forest carbon finance could also make a significant impact on reducing poverty through increased financial flows to developing countries."
The report marks a significant shift in the debate about saving rainforests, which has until now been dominated by charities and rich individuals - including Eliasch and the Cool Earth group he helped to set up - raising funds to buy forests, provoking outrage from some governments and local communities.
The new model has been supported by some environmental campaigners and by the government of Guyana, which last year offered to save its rainforests in return for payments from Britain. But others warn that it would allow developed countries to avoid tackling their own emissions.
"These proposals offer countries the chance to buy their way out of reducing emissions through forest protection," said Greenpeace's head of biodiversity, Andy Tait.
"If relatively cheap forest credits were easily traded with other carbon units, they could 'flood' or otherwise destabilise the markets. This is likely to bring the price of carbon crashing down, reducing incentives to invest in clean and renewable energy technologies in donor countries."
The Eliasch review says new research forecasts that without action to stop deforestation the problem would, by itself, generate enough carbon dioxide emissions to tip the planet over the level considered crucial to avoid more than 2C of warming. "Consequently ... forests will need to form a central part of any global climate change deal," it says.
Deforestation contributes about 17% of global carbon emissions, the third biggest source behind power generation and industry, and bigger than either China or the United States, says the report. It forecasts the pressure on forests will increase as world population grows by more than 2.5 billion people in the next 40 years.
"Rainforests [are] like a giant global utility right now, like a water utility or a power station, that's providing a service we're not paying for," said Andrew Mitchell, director of the Global Canopy Programme. "When you don't pay your electricity bill, you get cut off. We should recognise these countries shouldn't provide us with a service [for] free."
Mitchell added: "We're saying we need to build carbon capture and storage to take the carbon out of the atmosphere and forgetting about the plants taking it out for free. We have to do both."
· This article was amended on Tuesday October 14 2008 to include comments by Andrew Mitchell, director of the Global Canopy Programme.
Source: The Guardian, October 14

sábado, 27 de setembro de 2008

Cinema com direito a dublagem e intervalo

Hoje fomos pela primeira vez ao cinema aqui na Itália. Duas características estranhas a nós brasileiros: uma, todos os filmes são dublados, o que compromete a atuação dos atores; e a segunda é que há um intervalo no meio do filme. Paciência...

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Itália identifica caso de vaca louca na Lombardia

Um novo caso de encefalopatia espongiforme bovina, a doença da vaca louca, foi detectado na Itália após quase dois anos. A doença atingiu um bovino da raça frisona de 13 anos, abatido em 17 de setembro em Lodi, Lombardia. Há 21 meses não era detectado um novo caso no país. Este é um caso de BSE clássico, contraído por meio da ingestão de farinha mista de carne e de ossos. De acordo com o Instituto Zooprofilático de Turim, que conduziu a análise sobre a amostra cerebral, o animal pode ter contraído a doença em seu primeiro ano de vida, há 12 anos, depois de ter sido alimentado com ração contaminada, com farinha de origem animal, que é proibida na União Européia. "É um sinal claro de que a doença está sob controle", diz a chefe do Centro Nacional para a BSE, Maria Caramelli. "O animal será abatído, a fazenda está sob controle e não há risco de que a carne contaminada chegue à mesa dos consumidores." Além disso, prossegue Maria, o fato de que este é o primeiro caso após 21 meses mostra o evidente declínio da epidemia.
A notícia despertou imediatamente a preocupação do Codacons (Coordinamento delle associazioni per la difesa dell'ambiente e dei diritti degli utenti e dei consumatori), o órgão italiano de defesa dos consumidores. "Não podemos baixar a guarda, como muitas vezes acontece na Itália. Infelizmente, quando a atenção da mídia diminui, o controle é reduzido. As razões são muitas: falta de pessoal, de recursos", manifestou-se em nota um porta-voz do Codacons.
Fonte: APCOM

Itália identifica caso de vaca louca

Foi confirmado hoje um caso de vaca louca na Itália. O local de origem da fazenda é a Lombardia.
Maiores detalhes serão dados amanhã, neste blog.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

As folhas caem

Gente, aqui na Itália o outono está dando as caras. A temperatura começa a cair, chove com mais freqüência, a cidade em que eu moro, Sirolo, banhada pelo Mar Adriático, está vazia. Pois é, os turistas foram embora, como num passe de mágica. Vêm principalmente do norte do país e da Holanda e Alemanha. As ruas estreitas transbordavam de gente, enquanto os comerciantes e donos de hotéis, animados, enxiam suas caixas registradoras de euros. Incrivelmente muitas pessoas transformam suas casas em espécies de albergues no verão. E cobram caro por isso. Na média um quarto custa de 30 a 50 euros por dia, incluído café da manhã, que é servido pela dona da casa. Como a região central da Itália - me refiro a Marche - não é tão rica, é a maneira que o povo arruma para ganhar dinheiro. Quando o calor deixa de bater os empregos também escasseiam e o dinheiro dos turistas não entra mais. Curioso observar como as coisas funcionam aqui. Tudo adquire uma espécie de letargia. Que eu não me acostume com isso, pois do contrário será difícil acostumar ao ritmo de uma cidade grande de novo.

domingo, 14 de setembro de 2008

Engravidar é possível

Essa é uma dica boa para casais que moram na Itália e por algum motivo não conseguem engravidar naturalmente. O Centro di Fecondazione Assistita dell’Università di Bologna realiza fecundação in vitro gratuitamente, paga pelo Estado. Claro que é preciso entrar em uma fila de 8 a 10 meses de espera, mas mesmo assim dá uma esperança àqueles que querem muito ter um filho mas não conseguem. Obviamente a pessoa precisa ter nacionalidade italina ou a permissão para ficar no país e usufruir do sistema de saúde. A universidade oferece ainda uma solução econômica em relação ao que o mercado cobra - às vezes 7 mil por uma FIV. Se pode fazer imediatamente a um preço de 3 mil euros, com tudo incluído. O interessante é que não se paga nada para fazer todos os exames necessários, o que é uma excelente característica do sistema de saúde italiano. Uma boa estratégia é realizar a primeira tentativa pagando e, se por ventura não for bem-sucedida, realizar a segunda gratuitamente.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Preocupado...

Gente, eu tenho um talento para chegar nos lugares quando um declínio está iniciando ou já no embalo que eu vou te contar. Parece sina. Primeiro foi Mato Grosso, que um pouquinho antes da minha mudança era um verdadeiro oásis de prosperidade, mas também de destruição milionária da fauna e da flora, e que depois quebrou clamorosamente. Digo milionaria não pelo aproveitamento racional da madeira, mas porque naquele ano a área plantada cresceu 1 milhão de hectares para plantar grãos. Bom, não tendo muita informação sobre a Itália cheguei no meio de uma tempestade polílica e econômica, no início de 2008. O fim do mandato do então premier, Romano Prodi, era anunciado. Mas vamos a notícia... Hoje estava vendo o noticiário econômico na TV e a projeção do Banco Central europeu é que o país de Felini - mas também de Berlusconi - cresça 0,1%, contra a média de 1,3% do restante dos sócios da União Européia. O prognóstico no primeiro semestre era menos pior, 0,3%. Esses 0,2% para uma economia combalida representam milhares de postos de trabalho, geração de riqueza e maior arrecadação de impostos. Interessante é que a inflação projetada também é superior: 3,7% para 3,2% nos outros países da UE. Ou seja, se correr o bicho pega e se ficar o bicho come.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Livre e solto

A grande notícia dos últimos tempos é que cumpri os três meses do trabalho temporário. Estava difícil levar três atividades profissionais ao mesmo tempo. Mas esse no camping foi a primeira experiência profissional que tive no exterior. Não das melhores, é verdade, pois tive que fazer coisas que absolutamente não estava acostumado no Brasil. Mas, como estava matutando esses dias, trouxe dignidade num momento dessa experiência no extetior que estava crítico. Quatro meses e nenhum trabalho dá o que pensar - e se preocupar. Mas depois veio o trabalho como jornalista, que salvou o projeto e de uma forma digníssima. Bom, de agora em diante, quem entrar no blog vai se deparar com um post fresquinho. Farei uma viagem em poucos dias a trabalho e terei mais coisas para comentar.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Italianos sem frescuras

Alguém já experimentou andar num camping aqui na Itália? Eu sim. Por sinal, trabalho num, e por isso tenho que freqüentar todos os dias. Uma coisa que me chama a atenção no comportamento da italianada é o modo natural como vão ao banho ou voltam dele embrulhados em toalhas. Claro, não é que saem desfilando pelados, e aqui também não é um local de nudismo, mas faz parte da cultura esse percurso um tanto exposto. Às vezes também transitam na área pública em trajes íntimos - os homens de cuecas muitas vezes rotas e as mulheres de calcinha e sutiã. Quem conhece, sabe que a Itália é um país onde o falso-puritanismo campeia. Convivem aqui uma tentativa de puritanismo e a sacanagem total, na maior moral cristã. Nem mesmo em "casa" a Igreja Católica dá jeito de colocar os seus na linha.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Haja fumante

Eu já havia reparado como os italianos fumam que nem uns condenados, mas foi trabalhando num camping, onde os cinzeiros são visíveis e disponíveis em toda a parte, é que eu tive a dimensão de como consomem cigarros, cigarrilhas e charutos neste país. São cinzeiros e mais cinzeiros cheios de bitucas. Dois amigos e ex-colegas de trabalho, o Paulão e o Magno Jorge, lá de Mato Grosso, que fumam como uns morcegos, se sentiriam no paraíso. O que não é nada "tragável" aqui é o preço do cigarro, tipo uns 4 euros o maço. Bom, boa parte desse valor intragável é imposto. O governo enfia a faca para tentar persuadir a italianada a deixar o cigarrinho, mas em vão não consegue êxito. Não vi as estatísticas de câncer de pulmão no país, e eu, como meu próprio editor, não vou me dar o trabalho de pedir para apurar. Vamos pelo óbvio: pela quantidade de baganas dá para saber qual é o resultado nos hospitais. Espero ficar imune a esse vício, que larguei a caro custo umas três vezes na vida.

sábado, 26 de julho de 2008

Italiano critico

Ontem tive uma conversa bem legal com um italiano mais ou menos da minha idade. Um pouco mais velho do que eu, é verdade. Uns 42 anos. Me admirei pela maneira como é aberto. Extremamente critico em relaçao a sua gente, à politica italiana e, principalmente em relaçao ao Berlusconi. Falou sobre o poder de manipulaçao que esse sujeito tem nas maos, pois contola canais de tv, jornais, revistas, empresas de seguro, que alias, é extremamente monopolizado aqui, e uma porçao de outras coisas, incluindo o Milan. Ele tinha esperança que o Valter Veltroni ganhasse, para fazer dobradinha com o Zapatero, da Espanha. Eu, curioso que sou, perguntei como os italianos puderam colocar o cara pela terceira vez no poder? Afinal, nas suas outras duas passagens nao conseguiu concluir nenhum mandato, por força de corrupçao. Sao egoistas, retrucou ele. So pensam em si mesmos. Se tem comida, um carro e podem consumir um pouco o resto esta bem...Com o poder da midia nas maos, Berlusconi conseguiu grudar na esquerda a culpa pelo aumento dos impostos. Mas isso, segundo o meu interlocutor, foi feito ha muito tempo. Uma campanha massiva, no entanto, teria facilitado a vida para o atual premier. Bom, em poucos meses o cara criou uma lei para livrar a propria cara de um processo que carrega de tentativa de suborno. Funciona como a imunidade parlamentar brasileira. Outra coisa que ele fez foi colocar na geladeira todos os processos anteriores a 2001, alegando que a Justiça aqui esta superlotada de coisas. Mas na verdade beneficiou a si mesmo e aos seus correligionarios. Por fim, tem toda essa xenofobia contida no pacote de segurança, que apertou o torniquete contra os imigrantes estrangeiros. Um ministro do governo dele, o Maroni, é particularmente responsavel por essa caça às bruxas, que atinge ainda os ciganos nomades. Ele pertence ao partido Liga Nord, que pela primeira vez que vi achei que se tratasse do partido verde, dado que a bandeira é verde e o simbolo é uma especie de folha. Nada mais nada menos do que a direita fascista, que ganhou novamente protagonismo no pais. Enfim, o amigo pensa em deixar a Italia, por todas essas questoes. Quer ir para a Espanha, onde espera ver mais liberdade e ética, que atualmente estao em falta em Roma.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Eu voltei...

Caros e escassos leitores, pensei até abandonar esse meio de comunicaçao, pois julgava que a audiencia estava como a do SBT, sò caindo. Pelo meu ultimo post voces compreenderam que estou cheio de trabalho e nao estou dando conta, dai meu distanciamento. Mas qual a minha surpresa quando uma tia me incentivou a nao abandonar essa cria européia, que bem ou mal tem sido um diario eletronico das nossas andanças no Velho Mundo. Ta certo que tia é pra la de parcial e que minhas andanças pelo Velho Mundo ficaram circunscritas a um raio de 20 km, quando muito a Colonia, na Alemanha, mas para aquelas visitas de médico. Embora alguns autores de blogs façam questao de manter distanciamento sobre aquilo que escrevem, no sentido de evitar opinioes ou coisas do genero, me permito aqui um pouco mais de intimidade, ja que o meu trabalho, de jornalista, persegue uma utopica imparcialidade. Ou seja, vivo de noticiar a vida dos outros. Me permito aqui direcionar os holofotes pra mim. No final do verao queremos mudar para Milao, pelas oportunidades que a cidade oferece. Sabemos que nem tudo sao flores. Vamos encontrar aluguel mais caro que Ancona, insegurança, violencia urbana. Em compensaçao tambem teremos mais ofertas de cultura. Queremos ir a museus, teatros, shows legais e de preferencia gastando nada ou pouco. Bom, isso se pode encontrar em Milao. É isso. Para esse nosso reencontro esta mais do que bom.
Até a proxima.

sábado, 28 de junho de 2008

Para terminar com o suspense

Oi pessoal, fechei contrato com o Globalgap e assim volto a ser jornalista, agora na Europa. Terei muitas responsabilidades e será a minha primeira experiência internacional de peso. Ainda estou inebriado com o ambiente globalizado da organização. Os meus novos colegas são da Europa, da América Latina e da Ásia. Todos dominam o inglês, independente do sotaque. Mas tem gente capaz de se comunicar num terceiro e quarto idiomas, como uma panamenha que arranha um bom português porque fez Unicamp, e ainda fala alemão, inglês e o espanhol do seu país. E ainda uma alemã, filha de pai angolano e mãe da Guiné-Bissau, que por isso desfia um bom português com sotaque lusitano e ainda o inglês. Fiquei surpreso de encontrar pessoas que se comunicam na minha língua. É uma coisa muito aconchegante, como se fossem parentes queridos. A intimidade da língua proporciona isso. Mas claro que troquei figurinhas com todos, e isso me fascinou muito. Esse tipo de ambiente multicultural é maravilhoso. Os espanhóis são bem expansivos, enquanto o chinês é reservado mas também cortês. Já os alemães ficam no meio do caminho. Conheci ainda um uruguaio, um peruano, uma colombiana, e duas colegas da África do Sul que parecem européias. Todos, ou quase todos, ficaram fascinados quando souberam que tinha um brasileiro na equipe. O único entre eles.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Rumo a Cologne

Amigos e leitores, hoje, dia 25, tomei o rumo de Colônia para a reunião do EurepGap. Se tudo der certo eu vou guarda noturno e volto assessor de imprensa. Torçam por mim. Escreverei detalhadamente sobre minhas impressões a respeito de Cologne.
Uma dica para os que estão viajando pela Itália. Hoje cometi um erro e paguei mais por isso. Peguei um trem de Ancona para Bolonha e havia comprado passagem que é regionali, só que o dito cujo era intercity. Ou seja, numa tradução livre é nacional. Resultado, tive que pagar mais 15 euros. Abram os olhos.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Debate sobre trabalho

Sinto falta de me comunicar com brasileiros que estejam na Itália, de poder dividir experiências. Um debate que gostaria de abrir aqui no meu blog é se alguém, seja com cidadania ou não, conseguiu trabalhar na sua área de formação. Quais foram os caminhos para conseguir? Existem preconceitos contra os profissionais? O que é preciso para se firmar no mercado italiano?

sábado, 21 de junho de 2008

Sempre o Raphael

Gente, que o Yamandú Costa e os outros violonistas virtuoses e maravilhosos da nova safra me perdoem, mas o Raphael Rabello tinha uma sensibilidade musical imbatível. Pelo amor de Deus, pela memória da boa música brasileira, que vem do século XIX, das raízes do choro, não deixem de assistir aos vídeos do Raphael no youtbe, e nem que a memória dele se apague.

Meu primeiro meio de transporte na Itália

Depois de 5 meses subindo e descendo morros e gastando as solas de nossos tênis finalmente conseguimos comprar um meio de transporte, um motociclo de 125 cc. Para mim, foi como se adquirisse um Mercedes ou um Audi. Ao contrário das grandes cidades italianas, onde se pode encontrar farto transporte urbano, aqui dispomos de uma linha de ônibus para nos locomover. No inverno ele passa a cada hora, e perdê-lo significa ter que esperar, passar frio e perder a paciência. Nessas horas vêm à mente a fatídica pergunta: o que estou fazendo aqui, o que fiz da minha vida? Além disso, se acontece de perder o último de retorno de Ancona ou é preciso dormir em algum hotel ou praça, conforme a disponibilidade financeira, ou pegar um táxi. Comprar qualquer meio de transporte não é caro. Como aqui a compra de carros novos é fácil, pois as taxas de juro dos financiamentos são baixas e o negócio de usados não é tão aquecido como no Brasil, é possível achar carros dos anos 90 numa faixa de valor entre 500 e mil euros, conforme o modelo. O problema são a transferência e o seguro - que é obrigatório. Ninguém vende uma moto ou carro sem que o comprador tenha feito o seguro primeiro. Para o seguro anual de um carro prepare-se para pagar perto de mil euros, ao passo que para a transferência são mais 500. Você fez as contas e percebeu que a transferência e o seguro são mais caros que os carrinhos velhos? É isso mesmo. Já para um motorino os valores são mais convidativos. Paga-se de 300 a 400 por um seguro anual, mas também é possível contratar por seis meses. Eu fiz semestral e paguei 230 euros. Pela transferência paguei 180 euros, e pelo motociclo usado mil euros. Para quem está saindo do Brasil para morar na Itália é vantajoso fazer a carteira internacional, pela qual se paga R$ 180,00, se não me falha a memória. Do contrário, para dirigir moto a paulada será de 300 euros, sendo que para dirigir carro é 500 euros. Portanto, uma bela economia.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Luz da discórdia

Final da semana passada aconteceu uma coisa que me intrigou. Os meus senhorios colocaram um cartaz na porta de saída avisando para ter cuidado em não deixar a luz acesa. Segundo o meu critério, utilizaria esse tipo de expediente numa situação extrema. Não é o caso. No nosso caso, deixar a luz acesa é uma exceção e não a regra. Aqui existe uma neura em relação ao desperdício, o que particularmente penso ser uma atitude muito louvável. Mas no caso dos meus senhorios não se trata de consciência ecológica, mas de pura e simples mesquinharia. No meu caso, as despesas estão inclusas no aluguel, o que aparentemente parecia ser um bom negócio. Mas às vezes pode ser uma armadilha. Experimente ter proprietários mãos-de-vaca. Agora percebo que o mito do pão-durismo criado em relação ao italiano imigrante tem a sua raiz bem assentada na Itália. Alguma anormalidade no consumo é por volta suficiente para desencadear algum tipo de comentário do tipo que irrita, ainda mais quando se tem consciência de que se paga muito por um cubículo no qual vivemos batendo a cabeça no teto, de tão pequeno. Atualmente, a chaga do preço exorbitante dos aluguéis é o que mais castiga o consumidor italiano. Não contente com o cartazinho deixado na porta, a senhora de voz irritante ainda foi falar com a minha mulher, dizendo que havíamos deixado a luz acesa "un paio de volte". Não resisti quando alguns jovens que alugaram os quartos de baixo por um fim de semana não deram o clique. Aproveitei que estavam todos, incluindo os donos da casa, jogando conversa fora na porta de saída e dei uma largadinha: viu, não somos nós que deixamos a luz acesa. Esse tipo de comportamento mesquinho me deixa louco de raiva. Tudo bem que na Itália o preço da energia está ainda mais caro do que em outros países da Europa, porque precisa importar tudo o que consome de fora, mas exagero tem limite.

Governando em causa própria

Seu Berlusca começa a colocar as manguinhas de fora, com apenas pouquíssimo tempo de governo. Aliás, manguinhas não, porque ele quer é esconder o jogo. É de autoria de dois parlamentares de seu partido, o Povo da Liberdade, uma lei que proíbe políticos com mandatos em vigor de serem processados por crimes comuns. Na prática, se o camarada está com o rabo preso com a Justiça tem os seus revezes congelados. Essa iniciativa é prima da malfadada imunidade parlamentar brasileira. Na imprensa italiana não li nada a respeito, mas no El País está escrito que na verdade ele quer limpar a própria barra e a dos seus amiguinhos. O processo dele é bem cabeludo. Berlusca é acusado de ter subornado um advogado inglês, em 1997, pela bagatela de US$ 500 mil, para que este fizesse um depoimento favorável ao magnata da mídia italiana. O depoimento foi feito, e Berlusca saiu novinho em folha, sem nenhuma pendência com a Justiça italiana. Agora ele quer se livrar dessa acusação de corrupção ativa. Até que a Itália não é tão diferente do Brasil, não é mesmo?

domingo, 8 de junho de 2008

Cara a cara com um javali

Trabalhar como guarda-noturno na Itália não é das tarefas mais difícieis. Comecei essa atividade há uma semana e posso dizer que numa cidade pacata como Numana, em que estatísticas de criminalidade praticamente inexistem, é muito fácil. A situação de perigo mais consolidada até o momento foi que, há dois dias, encontrei um javali na volta pra casa, numa estradinha escura que dos dois lados é cercada por plantações de trigo. O bicho estava se refestelando com o grão quase maduro e pronto para a colheita, e destruindo quase tudo no entorno. Essa é uma das características do comportamento dos javalis: arruínam mais do que comem. Bem que eu vi que naquele terreno as plantas estavam todas acamadas. Pensei que fosse resultado da chuva e dos ventos que solaparam os planos de férias dos italianos uns dias atrás. Mas era obra do bichão. Felizmente ele sentiu mais medo de mim do que eu dele e saiu correndo pela plantação. A princípio pensei que fosse um cachorro, mas quando no escuro pude divisar os contornos avantajados desse porco selvagem me dei conta de que sim, era um javali. Na Amazônia cheguei perto de uma imensa anta, mas nunca pensei que fosse encontrar um javalizão, o que não é de estranhar, pois estou na terra deles e há pelo menos 20 anos deixaram de caçá-los no parque Del Conero, que é como chamam a reserva florestal do Monte del Conero.
Mas voltando ao trabalho de guarda-noturno, no princípio achei que fosse passar por experiências dignas das vividas por Jack Kerouak, que no livro On the Road fez esse bico para se capitalizar e seguir viagem. Bom, se não me engano ele chegou a comprar uma arma, e apaziguar os ânimos de trabalhadores bêbados loucos por confusão. Eu, em vez disso, preciso é lutar contra o sono, de tão monótono. Mas definitivamente não posso me queixar. Primeiro porque consegui um trabalho, direito ao qual os próprios italianos estão sendo privados neste verão de crise. E segundo porque não preciso carregar pedras ou entregar panfletos publicitários, o que exige caminhar por cinco, seis horas seguidas recebendo 30 euros ao dia. Isso sim que é trabalho pesado e mal pago.

sábado, 31 de maio de 2008

Raphael Rabello, um gênio

Conheci o trabalho de Raphael Rabello no final dos anos 1980 e no início dos 1990. Sempre apreciei o trabalho dele, mas essa admiração ficou lá, num canto escondido da memória. Ocorreu que fiquei o domingo passado inteiro assistindo aos poucos vídeos disponíveis do Raphael no Youtube. O que vi deu para perceber o gênio musical desse vistoso instrumentista. É de lamentar como morreu tão cedo, acho que com 33 anos. Para quem não sabe, Raphael se envolveu num acidente de carro e precisou de transfusão de sangue, num tempo em que não se tinha controle de nada. Resultado: ele foi contaminado com o vírus da Aids e acabou falecendo aos 33 anos, em 1995, deixando inacabado um disco com a participação de grandes feras da música brasileira. Se o leitor se interessar, vai conseguir assistir a preciosidades, como o Raphael tocando com o já idoso Radamés Gnatalli, outro gênio, que foi maestro da Rádio Nacional, compositor e professor de piano do Tom Jobim e de muitos outros músicos consagrados. Por sinal, os dois foram muito ligados nos anos 80.
Não me limitei ao Raphael, e pude descobrir que ele é herdeiro de uma escola de violonistas e músicos, tais como Jacob do Bandolin, Pixinguinha, Laurindo de Almeida, Dino 7 Cordas, Canhoto da Paraíba, Dilermando Reis, e muitos outros que forjaram a maneira brasileira de tocar o violão e fazer música brasileira. Vale a pena conferir.

quinta-feira, 22 de maio de 2008

Imigração rima com solidão

Quando se vivencia a imigração por volta se experiencia um sentimento de solidão muito forte. Há uma série de estranhamentos, entre eles o da língua, cultura, sobretudo cultura. Muitas vezes me sinto como um intruso. Falava eu para a minha esposa a respeito da pressão que existe contra os imigrantes na Itália. A televisão repete esse mantra exaustivamente e a meu ver é uma das fontes responsáveis pela criação dessa atmosfera racista. Pois está para sair um pacote de segurança que promete resolver o problema da imigração ilegal a fórceps. O Berlusconi e sua equipe querem mandar pra fora do país aqueles que não tiverem permissão para ficar. Uma verdadeira caça às bruxas. Mal o Berlusca assumiu e os conflitos internos europeus já começaram. Semana passada a vice do primeiro-ministro da Espanha, José Luis Rodríguez Zapatero, María Teresa Fernández de la Vega, disse que não seria permitida xenofobia na Europa. Causou um mal-estar diplomático.

Sindicalismo burocrata

A RAI 3, uma das que compõem o pool de emissoras da tevê pública italiana, é a melhor de todas. Tem uma programação bastante interessante. Ontem, num programa de entrevistas que geralmente faz um bate-bola com escritores, o autor da vez foi o jornalista Stefano Livandiotti, autor de uma obra sobre o sindicalismo da Itália. Os números apresentados por ele não deixam de ser um reflexo sobre a situação geral do país. Entrevistador e entrevistado falavam sobre a burocratização dos sindicatos, e a respeito de como deixaram de prestar serviços para a sociedade. Existem nada menos do que 700 mil delegados sindicais na Itália e, uma vez que entram na vida sindical a atividade vira uma profissão. Na contramão desses números impressionantes, que a rigor poderiam representar conquistas para os trabalhadores, a Itália é responsável por 25% dos acidentes de trabalho na Europa a cada ano. Nada menos do que o dobro da média da França e Inglaterra. Outra anomalia da vida do trabalho do país. Quarenta e nove por cento dos associados da CGL, a confederação dos trabalhadores, são aposentados.

sábado, 17 de maio de 2008

Morador de cidade grande

Sirolo, que antes de eu e minha esposa chegarmos tinha 3 mil habitantes - agora 3002 - é tão pequena que parece mais um bairro. Não tem um cineminha, mas tem teatro, por incrível que pareça. Aqui, todo mundo se conhece. Difícil se acostumar com um local "tão sem nada para fazer", tão provinciano. Ainda mais para um "rato" de cidade grande como eu. Ah, tem o bar e café do Grilo, que nas noites de sexta e sábado costuma ter boa música ao vivo, como blues, jazz, rock e até música brasileira. Também há um parque que parece uma mini-Redenção. É um belo parque, onde é possível sentar na grama nos dias quentes e ficar jogando conversa fora. A gente se adapta a essa vida tão pacata. Uma coisa que ganhei aqui foi o sossego que não tive nos últimos oito anos. Como não estou trabalhando ainda regularmente tenho muito tempo para não fazer nada, para ler, principalmente ler. Consegui chegar ao ponto final do Castelo na Floresta, do Norman Mailer, em duas semanas. Obra de 500 páginas escrita por um mestre. Por sinal eu recomendo. Antes dela li um diário do Garibaldi, dado pelo meu pai, o véio Menega, no meu último aniversário. Naquela época era difícil encontrar tempo para ler, tendo que me dedicar a dois empregos. Mas foi superbom que isso tenha acontecido, porque eu tive oportunidade de ler aqui na Itália, na terra do autor. Não apenas porque pude conhecer mais sobre a vida desse personagem mítico e sobre as suas andanças pelo Sul do Brasil, lutando ao lado dos republicanos gaúchos contra o poder imperial, mas porque percebi como os meus sofrimentos nos primeiros dois meses aqui foram pequenos diante do que ele passou. Me serviu como verdadeiro alento e terapia.

sexta-feira, 16 de maio de 2008

San Marino: local fascinante, história idem

Para os viajantes que estão na Itália - ou um dia pretendem vir para cá - um local fascinante de se conhecer é a República de San Marino. Por sinal, a mais antiga da Europa. Fica na Região de Marche, e leva o regionalismo ao extremo. Explico. É que aqui cada cidade, por menor que seja, é chamada de paese. Isso porque existe um orgulho explícito de que cada lugarejo possui as suas tradições, história e dialeto, não importando se outro comune está a 2 km de distância. Pois San Marino tem ainda casa da moeda, banco nacional, exército, time de futebol e selos. San Marino teria sido fundada por são Marino, monge e pedreiro do século IV, que teria fugido da perseguição religiosa do imperador Diocleciano. As fortificações que originaram a república san-marinense ficam no alto do monte Titano, e as fronteiras do país estão separadas por 12 km de terra no ponto mais largo. É preciso pegar um teleférico para chegar à capital, Borgomaggiore, localizada na base do monte Titano. Do alto é possível enxergar um magnífico vale. Apenas 10% do território italiano, por sinal, é plano. Não é à toa que estou ficando com as panturrilhas musculosas. O restante é pontilhado por colinas, montanhas, morros, e San Marino não é diferente. Borgomaggiore possui dois castelos e vive basicamente do turismo, apinhada de barracas e lojas que vendem souveniers, jóias, perfumes, bolsas, roupas. Há também dezenas de restaurantes. Os preços são relativamente econômicos tendo em vista o padrão italiano, pois gozam de isenção fiscal. Com 10 euros é possível conhecer os castelos e ainda visitar um museu de armas medievais. Os castelos têm a aparência rude da arquitetura medieval, mas são fortalezas que oferecem visão de 360º de todo o território, e nos tempos de guerra preveniam os habitantes dos perigos.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Dificuldades para trabalhar na Itália

Caminhar umas seis horas por dia distribuindo publicidade e ganhando por isso 30 euros não foi exatamente o que eu imaginei fazer de trabalho na Itália. Fiz esse trampo sábado passado, mas foi por apenas um dia. Observo como me iludi pensando que meus contatos ou dotes profissionais poderiam ser aproveitados e relativamente bem-remunerados. Obviamente que o domínio que eu tenho do idioma ainda é básico, mas esperava ter maior facilidade para me inserir no mercado de trabalho em vagas um pouco melhores. Alguns sites publicam, principalmente aqueles ligados à indústria da cidadania, que depois que você consegue se tornar um italiano a coisa melhora. Não é bem assim. A maioria dos ítalo-brasileiros que conheci atuam como faxineiros, badantes, garçons, carregadores, distribuidores de publicidade e por aí vai. Pelo que estou sentindo, a Itália não é um país que dá oportunidade a profissionais estrangeiros qualificados, a não ser quem sejam extremamente indispensáveis em áreas estratégicas para o país. Pelo pouco que tive oportunidade de testemunhar, nem mesmo àqueles que possuem dupla cidadania. A bem da verdade é que nem os jovens italianos que estudaram estão tendo oportunidades em suas áreas. A chaga do trabalho precário, que tornou incerto o futuro da reduzida juventude italiana, não permite que as pessoas em início de carreira possam fazer planos. Essa lei, que inspirou um livro e um filme que retratam o destino errante dos ragazzi, foi criada durante o Governo Berlusconi do início da década atual, e tem como preceito permitir que os empresários demitam e contratem os funcionários por tanto tempo quiserem, pagando menos impostos. Um italiano me contou que ficou por quase um ano desta forma. O que esperar desse terceiro mandato do Berlusconi? Boa coisa não virá.

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Globalização difícil

Fazemos aqui um curso de italiano em que temos como colegas pessoas da Índia, Marrocos, Vietnã, Tailândia e, principalmente, do Leste Europeu. Viemos encontrar até uma nordestina de Alagoas. É uma senhora falante e simpática, que como nós sente falta dos brasileiros. Aqui ela faz o trabalho de badante, que é como chamam a profissão de cuidar dos velhinhos – que geralmente é exercida pelas damas do Leste Europeu. Embora no início do curso eu tenha dito que estivesse aberto a travar amizades com pessoas de outras nacionalidades, na verdade esse tipo de enlace não é tarefa das mais simples. Aos poucos, vamos percebendo que os códigos são inteiramente diferentes, e mesmo que nos esforcemos fica difícil ir além de palavras amigáveis e pra lá de triviais, tendo em vista ainda a limitação do idioma de parte a parte.
Vez ou outra dá um quebra-pau entre os albaneses, que fazem jus ao nome da capital do país, Tirana. Por nada, de repente, começam a bater boca. Outra coisa que me chamou bastante a atenção é que o mito de que o mundo está interligado e globalizado não passa de um mito. Numa ocasião, quando fomos exortados a falar de pessoas que achávamos fascinantes cada um foi dizendo a sua. A professora não se fez de rogada e falou do George Cloney. Para surpresa da maioria, uma das colegas albanesas não sabia quem era o sujeito. Isso que ele tem casa aqui na Itália.
Outro dia a colega indiana falou do seu casamento, e do controle absoluto que os pais exercem sobre as escolhas dos maridos. Nem pensar que o candidato seja alguém que desagrade aos genitores. Outro fato é que uma mulher não pode em absoluto morar sozinha, sem a família ou um marido. Em boa parte da Índia, nem palidamente o movimento feminista conseguiu emancipar a mulher desse controle rígido.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Aqui, indústria da segurança não tem vez

Grades, cercas elétricas, cachorros bravos são coisas desconhecidas em cidades pequenas da Itália. Para quem passou parte da vida olhando para os lados numa noite escura, temendo pela saúde, toma um choque. Onde vivo, Sirolo - que é um comune de 3 mil habitantes à beira do Mar Adriático, agora 3002, contando eu e a minha esposa Fernanda - o dono da casa que eu alugo deixa a chave na porta durante o dia. Muros altos praticamente inexistem e a indústria da segurança, que fatura bilhões no Brasil, aqui não floresce. O Léo, um vira-lata ancião e de porte médio é o único dispositivo que o seu Piero utiliza para manter os visitantes indesejáveis à distância. Vez ou outra um “extra-comunitário” passa aqui na frentre, mas o Léo trata bravamente de latir e esbravejar e, segundo os seus donos acreditam, botar o suposto ladrão para correr.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Compras na Itália, haja paciência

Quem está acostumado com os supermercados brasileiros 24 horas abertos, se decepcionará ao fazer compras em algumas cidades da Itália. Aqui, tanto o varejo como o comércio abrem às 8h30min, fecham às 12h30min, reabrem às 16h30min e finalmente cerram as portas às 20h30min. E não é só porque eu vivo numa cidadezinha pequena. Algumas das maiores também funcionam assim. Isso é um verdadeiro pé no saco – que o leitor me perdoe. Imagine que você vá à cidade grande para procurar emprego e pretende ficar o dia inteiro envolvido nessa tarefa. Pois terá que mudar os planos ou se adaptar a esse horário maluco. Almoce e vá tomar um sol na praça e se estiver frio procure algum raro café que não fecha durante a tarde. Ir ao supermercado no domingo, nem pensar. Outro mal crônico daqui é a falta de vendedores nas lojas. Você sempre sai do estabelecimento com a sensação de que o comerciante deveria contratar mais gente. Ah, e não espere um “boa tarde, posso ajudar?”, ou “boa tarde, o que deseja?”. Essas “sofisticadas” técnicas de vendas ainda não são dominadas por aqui. Você sai do local com a sensação de que prestou um favor para o vendedor. Haja paciência...

sábado, 3 de maio de 2008

Conversa nas nuvens

Esses dias precisei viajar para a Alemanha e conheci uma quarentona italiana, minha vizinha de banco. Paola, que mora uma cidadezinha próxima a Bologna e é farmacêutica, namora um alemão. Lá pelas tantas eu perguntei sobre os planos que o casal fazia para o futuro. O que mais me impressionou foi a veemência com que disse que não mudaria de forma alguma para a Alemanha. "Sou muito apegada aos meus pais, amigos, cidade", comentou. O namorado, por sua vez, também não trocaria de vida e de país. Uma barreira intransponível para ela é o idioma. "Não sou boa para aprender novas línguas." Engraçado que não foi o primeiro italiano a me dizer isso. Ao mesmo tempo, ela não escondeu o sofrimento ao demonstrar a impossibilidade de consumar essa vida a dois, sob um mesmo teto. "Não sei o que acontecerá", falou, lamentosa. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi que certos italianos criam uma ligação de dependência tão poderosa com os seus parentes e com o seu universo que são incapazes de cortar o cordão umbilical. Afastado dessa conversa por um certo tempo, penso com os meus botões que essa retranca diante da mudança não é monopólio deles, pois chineses, brasileiros, russos e tantos outros podem ter esse caráter. Mas não deixo de pensar novamente sobre a opinião de Paola a respeito de seu país. Segundo ela, o envelhecimento populacional e o prolongamento da atividade desses vovozinhos no mundo do trabalho, da política, da cultura, impede que o país seja flexível diante dos desafios da atualidade. Sessenta por cento dos italianos têm acima de 60 anos. Vendo, ouvindo e sentindo na pele a situação econômica do pais, é possível afirmar que não houve preparação para enfrentar os desafios do século XXI, entre eles a malfadada globalização, o efeito da concorrência da China e a imigração dos países do Leste Europeu, África e do Mundo Árabe. Como a velha Itália sairá da sinuca-de-bico em que se colocou? Paola se disse incapaz de responder a essa pergunta e eu, neófito que sou em assuntos italianos, deixo a pergunta no ar.

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Alma dos italianos

Moro muito recentemente na Itália e por isso temo ser generalista ao querer traduzir a alma desse povo. Mas há certas coisas que precisam ser referenciadas sobre eles. Uma delas é o famoso mau-humor. Uma coisa que impressiona, por exemplo, é a falta de paciência dos vendedores e dos atendentes de supermercado. Dificilmente eles abrem uma conversação com um bom dia emoldurado por um sorriso. Esses dias precisei comprar queijo fatiado num mercadinho aqui perto de casa. Fiquei tomado de pânico quando, frente-a-frente com a vendedora, me dei conta que não sabia o nome "fatia" em italiano. Bom, o nome é fetta e cortar em fatias é affettare. Depois de algumas mímicas consegui me fazer entender, mas depois que ela havia cortado um naco grande do queijo. Bom, ela ficou indignada em ter que cortar um novo pedaço e fatiar do jeito que eu queria. Não conseguiu conter alguns resmungos. Ao contrário de outros países, o sentimento em relação aos estrangeiros não é dos melhores. O país está mergulhado em uma crise econômica - claro que por culpa dos próprios italianos e da sociedade que criaram - mas muito do peso dessa situação é debitado na conta dos estrangeiros. Segundo os programas jornalísticos das tevês nacionais, os estrangeiros são os únicos que cometem crimes. Falta a boa, velha, saudável e sábia auto-crítica não só para os jornalistas, mas para parte da população que embarca nesse discurso pobre.

Início da aventura

Prezados leitores,

Inicio aqui a viagem do meu blog. Usarei esse meio para postar pensamentos, experiências e impressões - nem sempre inspiradas - de um imigrante (jornalista) na Itália e Europa. Espero que seja útil para quem tem planos de mudar a sua vida e encarar uma experiência no exterior. Eu fiz a minha escolha e encarei.