sábado, 3 de maio de 2008

Conversa nas nuvens

Esses dias precisei viajar para a Alemanha e conheci uma quarentona italiana, minha vizinha de banco. Paola, que mora uma cidadezinha próxima a Bologna e é farmacêutica, namora um alemão. Lá pelas tantas eu perguntei sobre os planos que o casal fazia para o futuro. O que mais me impressionou foi a veemência com que disse que não mudaria de forma alguma para a Alemanha. "Sou muito apegada aos meus pais, amigos, cidade", comentou. O namorado, por sua vez, também não trocaria de vida e de país. Uma barreira intransponível para ela é o idioma. "Não sou boa para aprender novas línguas." Engraçado que não foi o primeiro italiano a me dizer isso. Ao mesmo tempo, ela não escondeu o sofrimento ao demonstrar a impossibilidade de consumar essa vida a dois, sob um mesmo teto. "Não sei o que acontecerá", falou, lamentosa. A primeira coisa que me passou pela cabeça foi que certos italianos criam uma ligação de dependência tão poderosa com os seus parentes e com o seu universo que são incapazes de cortar o cordão umbilical. Afastado dessa conversa por um certo tempo, penso com os meus botões que essa retranca diante da mudança não é monopólio deles, pois chineses, brasileiros, russos e tantos outros podem ter esse caráter. Mas não deixo de pensar novamente sobre a opinião de Paola a respeito de seu país. Segundo ela, o envelhecimento populacional e o prolongamento da atividade desses vovozinhos no mundo do trabalho, da política, da cultura, impede que o país seja flexível diante dos desafios da atualidade. Sessenta por cento dos italianos têm acima de 60 anos. Vendo, ouvindo e sentindo na pele a situação econômica do pais, é possível afirmar que não houve preparação para enfrentar os desafios do século XXI, entre eles a malfadada globalização, o efeito da concorrência da China e a imigração dos países do Leste Europeu, África e do Mundo Árabe. Como a velha Itália sairá da sinuca-de-bico em que se colocou? Paola se disse incapaz de responder a essa pergunta e eu, neófito que sou em assuntos italianos, deixo a pergunta no ar.

Um comentário:

Martha disse...

Que legal, Glauco! Estamos unidos novamente através dos respectivos blogs. Vou procurar sempre acompanhar suas aventuras na Itália.
Bjs e vida longa ao blog!