sábado, 28 de junho de 2008

Para terminar com o suspense

Oi pessoal, fechei contrato com o Globalgap e assim volto a ser jornalista, agora na Europa. Terei muitas responsabilidades e será a minha primeira experiência internacional de peso. Ainda estou inebriado com o ambiente globalizado da organização. Os meus novos colegas são da Europa, da América Latina e da Ásia. Todos dominam o inglês, independente do sotaque. Mas tem gente capaz de se comunicar num terceiro e quarto idiomas, como uma panamenha que arranha um bom português porque fez Unicamp, e ainda fala alemão, inglês e o espanhol do seu país. E ainda uma alemã, filha de pai angolano e mãe da Guiné-Bissau, que por isso desfia um bom português com sotaque lusitano e ainda o inglês. Fiquei surpreso de encontrar pessoas que se comunicam na minha língua. É uma coisa muito aconchegante, como se fossem parentes queridos. A intimidade da língua proporciona isso. Mas claro que troquei figurinhas com todos, e isso me fascinou muito. Esse tipo de ambiente multicultural é maravilhoso. Os espanhóis são bem expansivos, enquanto o chinês é reservado mas também cortês. Já os alemães ficam no meio do caminho. Conheci ainda um uruguaio, um peruano, uma colombiana, e duas colegas da África do Sul que parecem européias. Todos, ou quase todos, ficaram fascinados quando souberam que tinha um brasileiro na equipe. O único entre eles.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Rumo a Cologne

Amigos e leitores, hoje, dia 25, tomei o rumo de Colônia para a reunião do EurepGap. Se tudo der certo eu vou guarda noturno e volto assessor de imprensa. Torçam por mim. Escreverei detalhadamente sobre minhas impressões a respeito de Cologne.
Uma dica para os que estão viajando pela Itália. Hoje cometi um erro e paguei mais por isso. Peguei um trem de Ancona para Bolonha e havia comprado passagem que é regionali, só que o dito cujo era intercity. Ou seja, numa tradução livre é nacional. Resultado, tive que pagar mais 15 euros. Abram os olhos.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Debate sobre trabalho

Sinto falta de me comunicar com brasileiros que estejam na Itália, de poder dividir experiências. Um debate que gostaria de abrir aqui no meu blog é se alguém, seja com cidadania ou não, conseguiu trabalhar na sua área de formação. Quais foram os caminhos para conseguir? Existem preconceitos contra os profissionais? O que é preciso para se firmar no mercado italiano?

sábado, 21 de junho de 2008

Sempre o Raphael

Gente, que o Yamandú Costa e os outros violonistas virtuoses e maravilhosos da nova safra me perdoem, mas o Raphael Rabello tinha uma sensibilidade musical imbatível. Pelo amor de Deus, pela memória da boa música brasileira, que vem do século XIX, das raízes do choro, não deixem de assistir aos vídeos do Raphael no youtbe, e nem que a memória dele se apague.

Meu primeiro meio de transporte na Itália

Depois de 5 meses subindo e descendo morros e gastando as solas de nossos tênis finalmente conseguimos comprar um meio de transporte, um motociclo de 125 cc. Para mim, foi como se adquirisse um Mercedes ou um Audi. Ao contrário das grandes cidades italianas, onde se pode encontrar farto transporte urbano, aqui dispomos de uma linha de ônibus para nos locomover. No inverno ele passa a cada hora, e perdê-lo significa ter que esperar, passar frio e perder a paciência. Nessas horas vêm à mente a fatídica pergunta: o que estou fazendo aqui, o que fiz da minha vida? Além disso, se acontece de perder o último de retorno de Ancona ou é preciso dormir em algum hotel ou praça, conforme a disponibilidade financeira, ou pegar um táxi. Comprar qualquer meio de transporte não é caro. Como aqui a compra de carros novos é fácil, pois as taxas de juro dos financiamentos são baixas e o negócio de usados não é tão aquecido como no Brasil, é possível achar carros dos anos 90 numa faixa de valor entre 500 e mil euros, conforme o modelo. O problema são a transferência e o seguro - que é obrigatório. Ninguém vende uma moto ou carro sem que o comprador tenha feito o seguro primeiro. Para o seguro anual de um carro prepare-se para pagar perto de mil euros, ao passo que para a transferência são mais 500. Você fez as contas e percebeu que a transferência e o seguro são mais caros que os carrinhos velhos? É isso mesmo. Já para um motorino os valores são mais convidativos. Paga-se de 300 a 400 por um seguro anual, mas também é possível contratar por seis meses. Eu fiz semestral e paguei 230 euros. Pela transferência paguei 180 euros, e pelo motociclo usado mil euros. Para quem está saindo do Brasil para morar na Itália é vantajoso fazer a carteira internacional, pela qual se paga R$ 180,00, se não me falha a memória. Do contrário, para dirigir moto a paulada será de 300 euros, sendo que para dirigir carro é 500 euros. Portanto, uma bela economia.

terça-feira, 17 de junho de 2008

Luz da discórdia

Final da semana passada aconteceu uma coisa que me intrigou. Os meus senhorios colocaram um cartaz na porta de saída avisando para ter cuidado em não deixar a luz acesa. Segundo o meu critério, utilizaria esse tipo de expediente numa situação extrema. Não é o caso. No nosso caso, deixar a luz acesa é uma exceção e não a regra. Aqui existe uma neura em relação ao desperdício, o que particularmente penso ser uma atitude muito louvável. Mas no caso dos meus senhorios não se trata de consciência ecológica, mas de pura e simples mesquinharia. No meu caso, as despesas estão inclusas no aluguel, o que aparentemente parecia ser um bom negócio. Mas às vezes pode ser uma armadilha. Experimente ter proprietários mãos-de-vaca. Agora percebo que o mito do pão-durismo criado em relação ao italiano imigrante tem a sua raiz bem assentada na Itália. Alguma anormalidade no consumo é por volta suficiente para desencadear algum tipo de comentário do tipo que irrita, ainda mais quando se tem consciência de que se paga muito por um cubículo no qual vivemos batendo a cabeça no teto, de tão pequeno. Atualmente, a chaga do preço exorbitante dos aluguéis é o que mais castiga o consumidor italiano. Não contente com o cartazinho deixado na porta, a senhora de voz irritante ainda foi falar com a minha mulher, dizendo que havíamos deixado a luz acesa "un paio de volte". Não resisti quando alguns jovens que alugaram os quartos de baixo por um fim de semana não deram o clique. Aproveitei que estavam todos, incluindo os donos da casa, jogando conversa fora na porta de saída e dei uma largadinha: viu, não somos nós que deixamos a luz acesa. Esse tipo de comportamento mesquinho me deixa louco de raiva. Tudo bem que na Itália o preço da energia está ainda mais caro do que em outros países da Europa, porque precisa importar tudo o que consome de fora, mas exagero tem limite.

Governando em causa própria

Seu Berlusca começa a colocar as manguinhas de fora, com apenas pouquíssimo tempo de governo. Aliás, manguinhas não, porque ele quer é esconder o jogo. É de autoria de dois parlamentares de seu partido, o Povo da Liberdade, uma lei que proíbe políticos com mandatos em vigor de serem processados por crimes comuns. Na prática, se o camarada está com o rabo preso com a Justiça tem os seus revezes congelados. Essa iniciativa é prima da malfadada imunidade parlamentar brasileira. Na imprensa italiana não li nada a respeito, mas no El País está escrito que na verdade ele quer limpar a própria barra e a dos seus amiguinhos. O processo dele é bem cabeludo. Berlusca é acusado de ter subornado um advogado inglês, em 1997, pela bagatela de US$ 500 mil, para que este fizesse um depoimento favorável ao magnata da mídia italiana. O depoimento foi feito, e Berlusca saiu novinho em folha, sem nenhuma pendência com a Justiça italiana. Agora ele quer se livrar dessa acusação de corrupção ativa. Até que a Itália não é tão diferente do Brasil, não é mesmo?

domingo, 8 de junho de 2008

Cara a cara com um javali

Trabalhar como guarda-noturno na Itália não é das tarefas mais difícieis. Comecei essa atividade há uma semana e posso dizer que numa cidade pacata como Numana, em que estatísticas de criminalidade praticamente inexistem, é muito fácil. A situação de perigo mais consolidada até o momento foi que, há dois dias, encontrei um javali na volta pra casa, numa estradinha escura que dos dois lados é cercada por plantações de trigo. O bicho estava se refestelando com o grão quase maduro e pronto para a colheita, e destruindo quase tudo no entorno. Essa é uma das características do comportamento dos javalis: arruínam mais do que comem. Bem que eu vi que naquele terreno as plantas estavam todas acamadas. Pensei que fosse resultado da chuva e dos ventos que solaparam os planos de férias dos italianos uns dias atrás. Mas era obra do bichão. Felizmente ele sentiu mais medo de mim do que eu dele e saiu correndo pela plantação. A princípio pensei que fosse um cachorro, mas quando no escuro pude divisar os contornos avantajados desse porco selvagem me dei conta de que sim, era um javali. Na Amazônia cheguei perto de uma imensa anta, mas nunca pensei que fosse encontrar um javalizão, o que não é de estranhar, pois estou na terra deles e há pelo menos 20 anos deixaram de caçá-los no parque Del Conero, que é como chamam a reserva florestal do Monte del Conero.
Mas voltando ao trabalho de guarda-noturno, no princípio achei que fosse passar por experiências dignas das vividas por Jack Kerouak, que no livro On the Road fez esse bico para se capitalizar e seguir viagem. Bom, se não me engano ele chegou a comprar uma arma, e apaziguar os ânimos de trabalhadores bêbados loucos por confusão. Eu, em vez disso, preciso é lutar contra o sono, de tão monótono. Mas definitivamente não posso me queixar. Primeiro porque consegui um trabalho, direito ao qual os próprios italianos estão sendo privados neste verão de crise. E segundo porque não preciso carregar pedras ou entregar panfletos publicitários, o que exige caminhar por cinco, seis horas seguidas recebendo 30 euros ao dia. Isso sim que é trabalho pesado e mal pago.